Arquivos Rosalice Fernandes - Centro de Memória do Sul Fluminense

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Rosalice Fernandes

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Rosalice Fernandes, como muitos dos habitantes da região sul fluminense, é natural de Juiz de Fora (MG) e trabalhou como professora primária da Prefeitura de Volta Redonda. Chegou a atuar como militante da juventude do MDB nos anos 1970 e editora do jornal Zero Hora, recorrentemente censurado pelo 1° BIB. Foi eleita deputada estadual pelo MDB e presa por crime contra a segurança nacional em 29 de abril de 1976, acusada de distribuir dois mil exemplares do Boletim do Departamento Trabalhista do MDB de Volta Redonda sobre o dia 1° de Maio, além de estar ligada a políticos considerados subversivos pelas forças de repressão. Os materiais recolhidos pelas autoridades do DOPS foram interpretados como prejudiciais à segurança nacional, com o objetivo de atentar contra a imagem do Presidente da República, quando este realizaria, em determinado tempo, uma visita à cidade de Volta Redonda para as homenagens ao dia do trabalhador. Rosalice foi acusada de estar ligada à subversão em Volta Redonda e incitar a “luta de classes” e a “agitação da ordem política e social”. Na prisão, Rosalice participou de uma greve de fome, juntamente com Jessie Jane Vieira de Sousa e outras quatro detentas políticas, no Instituto Penal Talavera Bruce, no presídio de Bangu, Rio de Janeiro, alegando estarem encarceradas em prisão comum e que temiam pela segurança pessoal.

Foi colocada em liberdade no dia 14 de agosto de 1978, após cumprir um ano e dois meses de pena. Em Volta Redonda, por ocasião da missa de ação de graças celebrada por Dom Waldyr, na sede da paróquia de São Sebastião, no bairro operário do Retiro, foi recebida com faixas, cartazes e cânticos de apoio e de denúncia das prisões políticas e luta pela Anistia.

Sua família esteve ligada historicamente às lutas dos trabalhadores em Volta Redonda. O pai de Rosalice, o trabalhista Othon Reis, foi diretor do sindicato dos metalúrgicos de Volta Redonda por sete anos, no decorrer dos anos 1950 e 1960, e diretor da CSN entre 1962 e 1964.

Durante seu testemunho prestado à Comissão Municipal da Verdade de Volta Redonda, Rosalice afirmou que sofrera torturas, físicas e psicológicas, na sede do 1° BIB. Seu pai teria sido obrigado pelo alto comando do 1° BIB a abandonar Volta Redonda e foi trabalhar em uma empresa de construção do deputado cassado Rubens Paiva, no Rio de Janeiro, entre 1968 e 1971. Rosalice teria chegado a residir com D. Waldir Calheiros, durante um período após sua libertação, devido a trauma psíquico.

O acervo pessoal de Rosalice reúne uma série documental com informações acerca de sua prisão, ao lado de Raimundo Augusto Sérgio Nogueira Carneiro, que resultou na produção de um IPM. O referido inquérito é composto por documentos pessoais, da vida profissional, militância política, participação em sindicatos, jornais, impressos, receitas médicas, histórico de prisões composto por cópias dos arquivos da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro referentes à sua atuação como deputada do MDB, entre outros. Tais documentos foram, em sua maioria, produzidos pelo DOPS-RJ no período de 13 de novembro de 1974 a 26 de fevereiro de 1978. Integra, ainda, este acervo documentos da Comissão de Anistia, bem como o julgamento do recurso solicitado pela acusada ao Superior Tribunal Militar (STM), além de panfletos, cartilhas e recortes de jornais.

Este material foi digitalizado durante a vigência do projeto O 1° Batalhão de Infantaria Blindada do Exército e a repressão militar no Sul Fluminense, financiado pelo Edital n° 38/2013 da Faperj de “Apoio ao estudo de temas relacionados ao direito à memória, à verdade e à justiça relativas a violações de direitos humanos – 2013” e integra atualmente o acervo do Centro de Memória do Sul Fluminense Genival Luiz da Silva.

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